quem escreve

domingo, 23 de outubro de 2022

funeral

sinto o gosto de quem eu era

se esvaindo

camel azul, calça vermelha e um caderno na mão 

as palavras me fogem e eu já não sei

se tento encontrá-las ou se as deixo soltas

por aí

quem eu fui, quem eu sou, quem eu serei

não importa

o que importa, ao fim,

é que um dia eu vou embora

pra onde?

tanto faz

agora não faz diferença 

no entanto, o que faz

ou deveria fazer

também não existe.

não existe?

existe!

e continuará existindo,

não sei.

talvez eu saiba, sei lá

se quero saber 

o que afirmo

- e digo isso com propriedade

é que a morte é muito mais que morrer

e que a vida é muito mais que viver

e o meu rastro,

ao contrário do que pensei,

é muito mais do que ossos e fios de cabelo.

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